domingo, 27 de junho de 2010

Sonho acordada.

Primavera. A grama verde do campo, o ar fresco. Ao ar livre, deito delicadamente em cima do pano estendido no chão. Olhando para o céu, finalmente posso ver as pequenas luzes brilhando distantes. Senti falta das estrelas todo esse tempo. Por mais escuro que esteja, posso me guiar através delas.
Respiro fundo e sorrio. Pela primeira vez em tanto tempo estou em paz. Sinto a respiração tranquila que acompanha a minha, olho para o lado, mas o espaço está vazio. É que dentro de mim ainda estás aqui. Talvez o tempo em que pude senti-lo tenha sido tão pouco que comecei a imaginar coisas.
Definitivamente isso tem virado paranóia. Eu particularmente não me importo muito, contanto que possa senti-lo. Que seja platônico então, que eu fique aqui sonhando acordada esperando que estejas aqui, tendo a ridícula certeza de que estás mesmo aqui, que eu me iluda sozinha sem precisar de ti para isso, desde que eu possa te amar.
Contanto que todos os sonhos sejam calmos e tranquilos como esse, não me importo de ter que acordar todas as manhãs e perceber que foi um sonho.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Salvo em rascunhos.

Se o futuro é escrito certo por linhas tortas, devo ser uma caderneta de rabiscos. No qual se encontram todas as rasuras já escritas. O sentimento de fracasso é a pior dor, a vontade de tentar vai escapando por entre os dedos. É inútil derramar uma lágrima sequer. É inútil ouvir as palavras ao redor quando dentro de mim, nada muda. Eu sei que devia começar por mim, sei que todas as broncas são verdade, sei que ninguém vai jamais saber como é sentir o que eu sinto. Mas me deixem por favor chorar.
É o máximo que eu posso fazer além de tentar, além de dar meu máximo. Me deixem gritar e não se irritem. Eu preciso tirar de dentro de mim essa dor que persegue todo o tempo, vinte e quatro horas do meu dia. Preciso esquecer, e não é fácil. Preciso deixar pra trás e seguir em frente. Eu sei tudo isso. Não quero pena, não quero que ninguém se coloque no meu lugar. Só quero poder me irritar, reclamar, ser pessimista (porque o otimismo não me levou a lugar algum). Quero poder desistir sem tentar, porque me parece tão mais fácil...
Quero poder olhar nos olhos das outras pessoas e não sentir nojo, olhar para mim mesma e estar satisfeita. Olhar para o céu e ver mil estrelas. Ohar para os lados e encontrar alguém... Eu quero tantas coisas. Mas querer não significa poder, e quem não faz não recebe.
Salvo em rascunhos as palavras que eu queria gritar, as lágrimas que eu preciso derramar, a angústia de me sentir assim, a vontade de roubar aqueles olhos castanhos pra mim. Salvo em rascunhos tudo o que sou, o que quero ser e principalmente, os desejos que percorrem meu pensamento e meus sonhos dia após dia.

sábado, 12 de junho de 2010

Aqueles olhos.

"Dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos... Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me."

Dom Casmurro - Machado de Assis