quarta-feira, 22 de julho de 2020

Sobre o corpo alheio.

Há dias venho lendo publicações de diversas pessoas associando o movimento body positive com o incentivo à obesidade e isso tem me deixado bastante incomodada. Não sei se consigo expressar em palavras escritas quanto isso me deixa triste e cansada. A questão é que as pessoas distorcem um conceito tecendo críticas que muito lhes convém simplesmente por não fazerem uma pesquisa rápida sobre o assunto, ou pior ainda, por não terem o menor interesse em rever seus posicionamentos.
Para quem ainda não conhece, o movimento body positive (ou corpo livre) vem com a ideia de que, independende do seu estereótipo, as pessoas têm o direito de amar e aceitar o seu corpo do jeito que ele é. Veja bem... a palavra direito foi utilizada aqui por um motivo: não é uma obrigação, não é uma regra, não é um incentivo a ficar do jeito que está. Mas é sim um "tudo bem você ter o corpo que tem, pois você não é obrigada(o) a ser igual a ninguém". Por que isso é importante? 
Pois ao longo da vida, somos incentivados a estar insatisfeitos com nosso corpo caso ele não atenda ao padrão estético (que acredito não ser nem necessário frizar qual é). Se você acha que isso não existe, te desafio a encontrar uma pessoa que nunca tenha se olhado no espelho e pensado em mudar alguma parte do seu corpo simplesmente por não se parecer com aquela pessoa famosa que parece perfeita. Também desafio você a encontrar uma pessoa que nunca tenha sofrido body shaming - explicando muito superficialmente (isso será abordado em outro momento por aqui), o body shaming acontece quando o corpo de uma pessoa é apontado por outros em forma de piada ou reprovação, fazendo com que a pessoa sinta vergonha dela mesma. É difícil, né? 
Por isso, é importantíssimo que comecemos a fazer o movimento reverso. Ao invés de apontar o que você acha que está ruim, aponte o que você gosta nas pessoas (mas por favor, "bonita de rosto" não, tá?). Ou faça ainda melhor, não aponte nada. O movimento body positive é importante pois trouxe visibilidade e relevância para todos os tipos de corpos. Mas é motivo da insatisfação de muita gente pois foi dele que começaram a surgir pessoas que antes viviam escondidas: as pessoas gordas. E isso incomoda. Incomoda tanto que, mais do que nunca, os fiscais de saúde alheia aparecem com listas e listas de informações da OMS, do médico X, da nutricionista Y tentanto te dizer porque ser gordo é ruim, doentio e errado. Se as informações estão certas ou erradas não importa, o que importa é que: não é sobre isso, ninguém pediu sua opinião. 
É sobre finalmente, independente de qualquer outra coisa, se olhar e não se sentir diminuído pelo corpo que você tem. É se sentir representado pelas pessoas com corpos semelhantes aos seus que finalmente começaram a aparecer na sua timeline. Não existe a discussão do que é saudável ou não pois a saúde alheia: não é de interesse público. E convenhamos que um idiota aleatório dizer que "se preocupa com a sua saúde" sendo que nem te conhece é o retrato perfeito da pessoa que simplesmente não aceita o que está vendo: uma pessoa gorda se amando. 
É difícil desconstruir esses conceitos de perfeição. E quem mais deveria fazer isso provavalmente nem vai ler até aqui (ou nem vai abrir o link). Mas de qualquer forma, deixo aqui minha reflexão. Vale a pena repensar alguns conceitos as vezes, né?

Um beijo e até a próxima :)