quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Gotas.

Ouço o barulho que vem da janela... - Quem está aí?, largo a xícara que estava em minha mão e afasto a cortina. Nada. De repente, vejo algumas gotas caírem no vidro, deixando-o repleto de pontinhos incolores, refletindo nelas infinitas vezes minha imagem.
E que desgosto ao observar com atenção... Foi pra isso mesmo que tanto lutei? Para olhar as gotas da chuva em uma noite de verão totalmente sozinha? Tudo bem, os dias tem sido difíceis. Mas será essa a única desculpa que eu vou usar pelo resto de meus dias?
A expressão cansada, as olheiras que ocupam quase que a face inteira. Os olhos caídos e o corpo curvado. Que decepção. Que falta de amor próprio. O reflexo das gotas gritam com vontade: "Ergue esse rosto, menina! Coloca um pouco de animo nesse corpo!" e eu, que sempre tive uma desculpa na ponta da língua, me calei.
Por apenas alguns segundos observei a mim mesma e pensei alto: "É AGORA OU NUNCA!". E saí porta a fora. Abracei com vontade a água que caía torrencialmente do céu. Deitei na grama molhada, cheia de lama. Olhei para o céu azul escuro, chorando lágrimas imperceptíveis. Aí, lembrei de um certo alguém. No mesmo instante, abri um sorriso infinito.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Amanhecer.

Me conte o que você vê ao acordar... Vê o sol através da janela, cegando seus olhos cansados? Vê a neblina consumindo os dias frios, embaçando os vidros? Percebe como as estações vêm e vão, e eu só vejo você? Só tenho olhos para lembranças daquele sorriso de algodão doce.
Lembro coisas que nem deveria lembrar. Os gestos mais simples que deixava passar sem pena alguma. Agora eu sinto falta. Sinto falta do olhar sincero, das carícias em exagero, dos braços aconchegantes, da cama apertada. Tudo o que resta são lembranças.
E elas aparecem nos lugares mais inusitados. Aparecem nas músicas ruins, em um carro que atravessa a rua, ao andar sozinha pela calçada. Onde está você agora? Você prometeu que ia ficar...
E ao amanhecer desses dias que se arrastam, eu desejo poder voltar aqueles poucos instantes em que sentia seus braços rodeando os meus. As semanas vão passar e outras estações virão, mas eu continuarei aqui, perdida em palavras que não fazem sentido nem mesmo para mim.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Aqui.

A guerra acontece aqui dentro. Dentro do peito é que as coisas ficam estranhamente apertadas, e então tudo parece queimar. E aquelas palavras que ontem eram tão belas, vão se tornando aos poucos apenas pó. As lembranças ficam confusas e as coisas as quais tanto lutei para não sentir, vem à tona numa onda de emoções que nem sequer consigo expressar.
Eu quis, eu quis tanto que desse certo. Mas o destino nem sempre corre à favor do que desejamos. E então o que poderia fazer? Ficar sentada em um quarto escuro e cortar os pulsos? Chorar as poucas lágrimas que ainda se fazem presentes em mim? Ao contrário de morrer aos poucos, eu decidi viver. Do jeito que fosse possível. E caminhar olhando sempre em frente.
Porque essa revolução de sentimentos que toma conta das idéias obscuras, ela vai passar. Assim como tantas outras já passaram. E como diria você... eu, eu não devo sentir nada mesmo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A alma errante.

Duas almas se encontraram. Não sei se no momento certo, no mais comodo ou em passos desajeitados. O que importa é que se encontraram. E seus olhares e sorrisos se apaixonaram. Foi inevitável. Aquele sentimento que dá calafrios, faz o coração bater mais forte... Acho que é... amor? Não lembro bem o nome que dão a isso. Mas essas almas nunca precisaram de palavras para se comunicar. Bastava elas saberem que tinham uma a outra para continuar seguindo.
Certo dia, um senhor chamado Tempo fez com que cada uma seguisse o seu caminho. E então uma senhora, também não recordo por que nome atendia, que vinha acompanhada da Dona Solidão levou ambas a lugares muito distantes. Lembro-me que a velha senhora era conhecida por oferecer felicidade em troca de outras almas. Então, ela prometeu as duas almas uma imensidão de tesouros para quem aceitasse segui-la, mas apenas uma cedeu aos encantos da velha. Esta foi feliz.
A outra alma... a outra alma foi libertada assim que outras caíram nos truques da velha senhora. Mas continuou presa... Presa em si mesma, em suas próprias ilusões. E esta, a pobre alma que decidiu jamais ceder a qualquer encanto, segue errante. Mas segue também sendo ela mesma, custe o que custar.

domingo, 30 de outubro de 2011

Vazio.

Vazio. E novamente é assim que as coisas se encontram. E eu que achei que acharia alguma saída para a solidão interior... Algumas coisas não tem solução, o jeito é se conformar. Já que é de conformismo que vive o mundo, por que não eu?

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ao final do manuscrito, o amor.

Despertou as lembranças que ficaram adormecidas em algum lugar dentro de mim. A manhã estava ensolarada e eu andava tranquila por entre as pessoas. Meus olhos atravessaram os carros. Eu procurava apenas olhar ao redor, distrair a visão da estrada fixa que via à frente.
Ele passava... andando com as mãos no bolso do casaco preto. Estava exatamente como da primeira vez que o vi. Seus cabelos raspados, seu rosto sem expressão. Por um instante ele me olhou, talvez tenha pensado até em abanar discretamente. Mas foi tão rápido que só consegui voltar a olhar para frente e baixar a cabeça, acompanhando o movimento de minhas pernas desajeitadas. Pude relembrar em uma fração de segundos tudo o que com ele vivi.
Talvez se meus olhos tivessem atravessado a rua alguns segundos antes, ou depois, eu nem sequer o teria visto. Mas de qualquer forma, o final de minha caminhada diária seria o mesmo: sentada em um bar com um cigarro aceso entre os dedos, lembrando. Talvez não daquela história. Mas sempre há alguma memória que faça pessoas de corações solitários prenderem-se ao que não volta mais.

(E ao final da página do manuscrito deste escrito, encontro um pequeno coração e dentro dele duas letras: A s2 L. E as lembranças dessa vez são boas. Repletas de sorrisos os quais meus olhos fariam questão de atravessar ruas para encontrar.)

sábado, 24 de setembro de 2011

Ainda sei sonhar.

Saiu correndo pela estrada e não quis olhar pra trás. Sentia seus cabelos voando, seus olhos gelados por causa do vento. Suas mãos suadas pela impaciencia. Queria que a terra parasse. Que o relógio voltasse. Sonhava com tempos onde as borboletas pudessem voar pelos jardins floridos com liberdade, que os pássaros pudessem cantar fora das gaiolas enferrujadas. Que os cães e gatos perseguissem um ao outro sem serem atingidos por pedras perdidas. Queria que a raça humana fosse de fato humana.

Sempre foi uma garota sonhadora. Gostava de ler antigos romances, viajar para longe ao som dos Beatles e olhar para as estrelas deitada na grama em dias de verão. As pessoas a olhavam como se ela fosse de algum outro planeta. Só porque ela tinha mania de falar sozinha e apontar para o céu como se alguém a estivesse ouvindo. E todos riam, caçoavam, deixavam ela de lado, sem chance alguma de aproximação.

As vezes ela chorava. Sentava em algum canto qualquer e deixava que a raiva fosse embora com o suor dos olhos. E as pessoas continuavam rindo. E a menina continuava sonhando. Ela não se importava nem um pouco em ser assim. Preferia se perder em suas ilusões do que ser enganada por outros.

Percebeu com o tempo que as pessoas gostam de enganar. Enganam a si mesmas e fingem que está tudo bem. E por isso ela saiu correndo por aquela estrada naquela manhã. Correu até que suas pernas não pudessem mais aguentar. Respirava fundo e sentia-se frustrada por não ter encontrado o lugar que esperava. Ela não encontrou nenhum animal livre e ninguém da raça humana que fizesse jus ao nome. E como poderia? Tinha corrido apenas até a cidade vizinha...

Poderia ter corrido milhas e milhas e não encontraria um lugar diferente. Percebeu isso quando alguém lhe empurrou na calçada, andando com pressa. Então tirou seus sapatos e voltou a correr para o lugar de onde tinha vindo. Sabia que lá encontraria ao menos o mundo que ela tinha construido para si. Seus livros, suas sombras, suas estrelas.

Ao menos uma coisa era certa para ela: sonhar nunca foi pecado. (mesmo que as pessoas a condenem por isso até hoje!)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Reflexão.

Os pés descalços tocam a terra úmida. A grama verde, marcando o início de uma estação repleta de cores. Olho para dentro de mim e não consigo enxergar essas cores. E eu me pergunto quando é que vou me reerguer?
Talvez as coisas estejam exatamente como tem que estar. Talvez elas estejam mesmo é girando fora de órbita e eu precise dar um tempo infinito deste mundo real e cansativo. Só sei que ser feliz é uma terefa difícil, e nenhum de nós deveria se preocupar em executá-la. É foda, sabe? Com o perdão da expressão, eu me canso de tentar satisfazer a tudo, a todos e principalmente a mim.

As pessoas não sabem mais o sentido da expressão "deixa rolar". Gostaria tanto que soubessem...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Universo Paralelo

Este texto é de autoria de um dos maiores escritores que eu conheço, o Daniel Haas. Eu me identifico muito com o que ele escreve, e vocês?


- Você queria me ver?

- Ahn. Sim. Disseram-me que você não anda muito bem. Queria saber como você está.

- Estou muito bem. Mas de qualquer forma isso não diz respeito a você. Não mais.

- É que desde que falaram isso para mim não paro de pensar em você. Sinto-me responsável por tudo, enfim. Estava preocupado.

- Estava é. Você brincou comigo, me quebrou em mil pedaços. Agora está preocupado.

- Eu estive confuso. Queria achar explicação para o que eu sentia. Eu sei que menti muito, mas eu mentia pra mim também, e você não sabe como isso é ruim. Sabe, continuo confuso, mas está tudo diferente agora. Estou mais tranqüilo, mais contente, porque entendo o que preciso. Não quero mais saber todas as respostas, não sou mais criança para isso.

- E você acha que mudando assim é que eu vou te perdoar? Você usa palavras gastas. Não é a primeira vez que ouço isso.

- Mas eu não tento ser original, afinal, quais são as palavras que nunca são ditas? Mas de qualquer forma, eu já não me importo mais com que os outros pensam; vejo as coisas do meu jeito e eu sei que você sabe, de certa forma, que vemos as coisas parecidas.



Você pode ler este e muito mais em: Universo Paralelo

Aproveitem a leitura! Eu leio e recomendo.


Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.


(Legião Urbana - Quase sem querer)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Perder-se também é um caminho.

Ao ver os olhos castanho-esverdeados no espelho percebeu as marcas de expressão que rodeavam seu rosto. A idade continua a mesma de alguns dias atrás, dias em que essas marcas não estavam ali presentes. O que envelheceu mesmo foi a alma. Ela abandona aos poucos as pessoas que perdem a vontade de viver. E foi o que aconteceu... A vontade de respirar foi embora, o brilho em seus olhos também. São lembranças agora. A vida inteira viveu em ilusão. E ela se perdeu em sonhos jamais realizados. Mas ainda acredita na velha frase clichê: "Perder-se também é um caminho". É.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Mãos frias, coração quente.

Abri os olhos pela manhã e desejei ficar o resto do dia na cama, mas a rotina que preenchia meus dias me obrigou a levantar. Fechei os olhos por alguns instantes e afastei os cobertores, fazendo com que eu me lembrasse de que lá fora o frio era quase maior do que o lugar que agora era vazio em minha cama.
Carlos havia partido já faziam seis meses. Um acidente de carro, nada pode ser feito. Mas viviam em mim as doces lembranças. Aquele tempo em que eu acordava, e mesmo no mais frio dia, ele trazia-me café na cama, sempre repleto de sorrisos. Aqueles dentes perfeitos, fazendo contraste com seus lindos olhos verdes. O calor de seu corpo aquecendo o meu durante as madrugadas geladas.
Acordei de minhas lembranças ouvindo o apito da chaleira, desejei voltar no tempo, mas o relógio me impedia de continuar sonhando. Todos os dias sem Carlos seriam dias frios e nebulosos. Apenas sua lembrança aquecia um pouco meu coração solitário. As memórias boas e ruins se tornaram meu bem maior. Minhas mãos estão frias por causa do inverno, mas meu coração estará sempre quente com as lembranlças de um amor que será eterno.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sonhos de um adolescente viajão

Você passa a vida inteira em uma sala de aula. Acorda cedo todos os dias, aguenta aulas intermináveis, estuda até o cérebro fritar. Ensino Médio concluído. Você é orgulho para os pais, o filho que todos pediram a Deus. Aí a sociedade resolve que além dos quinze anos dentro de uma sala de aula foram poucos, para ser alguém na vida, o Ensino Médio não basta, você tem é que fazer faculdade, tem que trabalhar, encontrar um namorado, se vestir bem... E por acaso alguém já lhe perguntou o que é que você gostaria de fazer? Quero dizer, por vontade própria, não pelos outros.

Não te deixaram tempo para pensar, para esclarecer as ideias e encarar o mundo da forma que lhe for conveniente. Se não estiver dentro dos padrões, é descartado. Sistema simples e eficiente. E então eu me pergunto: “É isso que eu quero para a minha vida?”. E se eu quiser sair do Ensino Médio e apenas trabalhar, se eu decidir que faculdade não é exatamente o meu sonho de futuro bom? Quem é que vai me provar que está errado? Porque viver para ser feliz não é errado. O que não é certo é que as pessoas deixem que o maldito sistema escolha por elas.

Você sempre teve o sonho de sair pelo mundo. Sem namorado, sem família, sem amigos. Nunca quis se estabilizar. Mas as pessoas ao saberem disso tomam seus ideais como piada de adolescente viajão. Não querer casar, não querer ter filhos, não querer estar em um emprego estável... Você está fugindo do sistema, eles precisam capturar suas ideias de alguma forma e traze-las para o mundo real. E fazem isso, ah, se fazem! E da forma mais maçante. Jogam na sua cara todas as coisas que os outros fizeram e você não fez. Usam palavras desagradáveis como “preguiçoso, vagabundo”, só para você ter certeza de que está errado em suas escolha. E então, por livre e espontânea pressão, você cede.

E assim você entra em uma faculdade. Escolhe o curso que acha mais conveniente, ou um qualquer só para não perder mais tempo e terminar logo a graduação que sua família tanto sonhou. Estuda mais uma vez até o cérebro fritar, ou empurra com a barriga, do jeito que dá. Diploma na mão. Quem disse que você quero exercer uma profissão? Todos disseram, menos você! E aí você se obriga a trabalhar, mais cedo ou mais tarde arruma um namorado, constrói família, compra o carro do ano. Se conforma e diz estar feliz. Todos acham você o máximo.

E seus sonhos de adolescente viajão, onde foram parar? Ficaram esquecidos em um passado distante, de uma época em que seus ideais e vontades próprias eram apenas ilusão. O sistema toma conta de você, de quem você realmente é. Ele engole sem pena tudo o que de bom você quis ser. E você, que queria tanto ser uma pessoa feliz, se torna apenas mais um conformado. O sistema que me desculpe, mas os sonhos de adolescente viajão são o caminho para a felicidade plena. Conformismo é pra gente de ideais fracos. Estar feliz faz parte de um conjunto de sonhos e realizações que você escolheu. Se outras pessoas fizerem isso por você, a felicidade será delas, e não sua.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Fugindo de mim.

O vento sopra lá fora fazendo um barulho que não me deixa dormir. As noites viraram pesadelos e nem sequer pego no sono, sabendo então que tudo o que sinto é real. E eu, que sempre quis tanto me encontrar... Tudo o que sei agora, é que me perdi. Me perdi em olhares mentirosos, Em palavras vazias. Me deixei enganar por coisas nas quais acreditava que jamais poderiam me vencer.
Corri contra o tempo, contra meus ideais, meus sonhos. Me afundei em algo que me prente e não quer soltar. A força de vontade de "ser" foi tomada pela preguiça de correr atrás. Me acomodei em uma rotina sem sentido, reclamando de tudo e de todos pelo simples fato de não ter o que fazer.
O céu é sempre escuro agora, a hora do dia independe. E o desejo de mudar precisa começar a ser mais forte do que as sombras. Meu corpo e minha mente precisam se reerguer.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

380 estrelas - a lembrança

Todos os dias quando fechava os olhos eu lembrava das 380 estrelas que havia contado. As lembranças se tornaram exatamente o que eu temia... Achei que o tempo fosse apagá-las, mas continuavam ali. Tudo o que havia sido dito. Nem as cores haviam envelhecido. Um ano havia se passado, a vida já deveria ter tomado outro rumo. Mas tudo continuava intocado. Um amor do qual jamais esqueceria.
Eu não o via mais, não escutava sua linda voz, não me iludia sozinha. Apenas não conseguia esquecer. A gente sabe que o sentimento foi - ou ainda é - verdadeiro quando o tempo não apaga as lembranças. As memórias, apesar de parecerem traiçoeiras, não existem apenas para que fiquemos sofrendo o passado. Elas são a prova mais concreta de que os sentimentos realmente fazem sentido. E se nos sabotamos, a culpa é somente nossa. Memórias nos fazem lembrar não só de momentos bons e ruins, mas nos fazem lembrar também de sentir. E como é bom poder sentir.. !

380 estrelas (repostagem)

Aquela noite estava diferente, eu podia ver todas as estrelas brilharem cada vez mais lindas e de um jeito especial no céu.
-380 estrelas, disse Marcos.
-380? Mas como você sabe? Não vá dizer que ficou contando estrelas!, dei uma breve gargalhada.
-Contei!, disse ele, sério.- Estava eu deitado certo dia, sem conseguir dormir por causa do calor, a janela estava aberta e o céu cheio de lindas estrelas; não pude evitar, comecei a contá-las. Vez ou outra eu me perdia pensando em coisas que me lembrassem aquelas estrelas, e tinha que começar a contar tudo novamente. 380!- afirmou novamente- no espaço deste pequeno quadro de maravilhas que é a minha janela, haviam 380 estrelas.
Eu olhava, perplexa, não sabia exatamente o que dizer. O quarto não era muito grande, haviam duas camas, na verdade apenas uma - que dava para aquela janela- a outra era apenas um colchão . As paredes eram brancas e sujas, a tinta descascava, ao lado da cama uma prateleira na qual eram guardadas as roupas - ao menos as que não estavam espalhadas pelo chão do local- e ao canto da parede, um violão.
Olhei para ele,séria:
- Eu gosto de você. - depois disso bebi mais uma dose de vodka e comecei a observar o gelo. Marcos me olhava.
- Isso é só paixão. Em breve você vai olhar para tras e rir de si mesma por dizer que gosta de um idiota como eu.
De cabeça baixa, tudo que eu conseguia fazer era escutar, e continuava brincando com aquelas pedras de gelo que ainda estavam no copo, tentando não falar mais do que devia, eu já havia me humilhado o bastante para um dia só.
- Eu sei.- disse eu.- Espero que o que eu sinto se desfaça, se dilua, da mesma forma que essas pedras de gelo. - Bebi.
Ele pegou o copo da minha mão, bebeu um gole da vodka, largou-o no chão, já vazio, acariciou meu rosto com cuidado, se aproximou tão devagar que pude sentir sua respiração ofegante cruzar com a minha, e me beijou.
Quando fui dormir, lembrei mil vezes de cada detalhe daquela tarde, e ainda podia sentir suas mãos perto das minhas, e nossos lábios em tão perfeita simetria. Deitada na cama, sem sono, eu olhava para o céu... Contei 380 estrelas.

Nota ao leitor: Estou repostando primeiramente por ser um texto que foi e é muito importante pra mim, e também pelo fato de que, em seguida, virá um post reflexivo sobre ele.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Coração nômade

Garrafa de whisky na mão. Sem gelo, sem copos. Só eu e a bebida. Meu quarto ficava no andar de cima de um antigo bar. Abrindo a portinha e subindo a velha escada de madeira. Lá em cima apenas um pequeno cômodo. Cama, uma penteadeira com algumas gavetas, uma estante com livros, um criado mudo, algumas teias de aranha e uma velha poltrona.
Eu olhava para as paredes cheias de frestas e imaginava como seria a vida se eu não tivesse ido embora. Parece que eu estaria em um lugar melhor. A casa onde morávamos era grande, confortável, cheia de coisas desnecessárias. Murilo tinha uma mania de grandeza que não me fazia bem.
Eu queria sair correndo para longe daquele lugar sufocante. Realmente, eu estava em um lugar melhor quando tinha Murilo perto de mim. Mas era melhor aos olhares curiosos dos vizinhos e amigos que nos desejavam com aquele ar de cinismo toda a felicidade do mundo. Eu nunca seria feliz com ele. Meu destino era estar só. A casa era linda, Murilo era lindo, eu... Eu não era feliz.
Eram duas e meia de uma madrugada fria quando o vi pela última vez. Foi o momento em que saí da cama e dei um breve beijo de adeus em seu rosto. Um breve bilhete contendo um trecho de uma música que ele conheceria, e entenderia.
"Sing it for me, I can't erase the stupid things I say. You're better than me. I struggle just to find a better way.
So here we are, fighting and trying to hide the scars. I'll be home tonight, take a breath and softly
say goodbye. The lonely road, the one that I should try to walk alone. I'll be home tonight, take a
breath and softly say goodbye.
You're running like me. Keep moving on until forever ends. Don't try to fight me. The beauty queen has lost her crown again.
Take a breath and softly say goodbye.

Lembre de mim com carinho. Adeus."

E saí em busca de mim. Talvez ele tenha ficado triste, talvez já esperasse. Só sei que nunca mais o vi. Sempre fui fria, sempre quis ficar sozinha. Estar com ele foi apenas a realização do desejo de meus pais. Saí da cidade, encontrei emprego na livraria e um quarto simples para alugar. Era o que eu precisava, a estadia tinha os dias contados. Eu nunca mais criaria raízes em um lugar.

A garrafa de whisky já estava aberta, sentei na poltrona gelada e comecei a beber. Fumei um, dois, dez cigarros. A garrafa não tinha fim, e minha sede também não. Eu desejei por um segundo voltar no tempo e rever Murilo, mas a idéia se apagou rapidamente. Me peguei com os olhos úmidos. Algumas lágrimas cairiam a qualquer momento. Saudade? Não era isso o que eu sentia. Isso tudo não era efeito do álcool e nem arrependimento, era apenas solidão. Ela foi embora assim que deitei a cabeça no travesseiro e dormi algumas horas.
Para mim, tudo é passageiro, menos a minha vontade de estar só. Por mais que eu sinta uma dorzinha cutucando o peito e uma inquietação de um corpo querendo calor, é assim que gosto de viver. Uma ou duas garrafas resolvem meu problema. Tudo fica mais tranquilo depois de traçar outros objetivos, novos sonhos. Nasci para ser nômade. E, querendo ou não, é desse jeito que sou feliz. Ainda não me encontrei, ainda não sei o que quero... Mas quem sabe um dia?

*Música do bilhete: Here we are - Breaking Benjamin

terça-feira, 5 de julho de 2011

Amor e Música

Ainda não escrevi a parte três de "O castelo no campo", mas para não ficar tão ausente, uma foto que abriga as duas coisas que trazem mais felicidade ao ser humano, que aquecem os corações no frio do inverno e nos levam a crer que quanto mais dos dois tivermos presentes no dia-a-dia, mais felizes seremos.

Amor e Música, indispensáveis para que meus dias sejam repletos de alegria.


quarta-feira, 25 de maio de 2011

O castelo no campo (parte 2)

Olhei por alguns instantes para o local, sentei-me na poltrona. O gato sentou-se aos meus pés. Poderia ficar parda olhando para o comodo quase vazio, mas a voz da moça quebrou o silencio.
- Agora volte para a entrada.
Por alguns instantes permaneci sentada, o lugar era tão meu, tão sereno. Mesmo sem querer me dirigi até a porta de entrada do castelo. Naquela sala haviam três portas. A moça pediu que eu entrasse em uma delas. Escolhi a primeira a direita. o quarto era grande e iluminado. Um sofá e um tapete quase que do tamanho da sala, duas estantes com muitos livros. Janelas enormes, cortinas vermelhas.
- Você se sente bem neste lugar? respondi que não. Entao deixe-o da forma que preferir, use seus poderes.
A sala estava então com as cortinas fechadas. os móveis novos e caros tornaram-se antigos e surrados. O sofá rasgado e o tapete quase sem vida. Agora eu me sentia bem ali. A moça pediu então que eu saísse e me dirigisse até próxima porta. O quarto seguinte estava exatamente igual. Fui ordenada a deixá-lo novamente e meu agrado. Deixei-o completamente vazio. Só eu e o gato.
Sentei-me no chão e fiquei brincando com o animalzinho dócil por um tempo, até que a voz da moça sugerisse que eu fosse explorar o último quarto. E qual não foi a minha surpresa quando abri aquela porta... Estava exatamente igual aos outros dois cômodos. Novamente, eu deveria deixá-lo da forma que eu preferisse. Mas desta vez nao mudei nada. Era insistência demais ver os três quartos exatamente iguais.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O castelo no campo (parte 1)

Amanheceu naquela cabana ao longe. Ela era simples, toda feita de madeira. Da chaminé saía ainda a fumaça da noite anterior. O sol entrou pela janela e tocou meu rosto. Eu abri os olhos e senti aquela preguiça matinal, esticando os braços e bocejando. Levantei-me da cama quentinha, calcei minhas pantufas e fiz meu café.
- Imagine-se agora com uma roupa leve, confortável, disse-me a moça.
E foi o que eu fiz. Vestia agora um jeans surrado e uma camiseta cinza. Fiz um café preto e fui até a varanda. Descendo os três degraus que antedeciam a porta de correr, pude ver a grama verde lá fora. Ao abrir a porta, senti a brisa batendo no cabelo. Fui até a grade e apoiei a xícara na mesma.
Fechei os olhos e a sensação de liberdade consumiu meu corpo. Deixei a xícara ali mesmo, e saí correndo pela grama. Pés descalços, sorriso no rosto. Avistei ao longe um castelo. Curioso como eu nunca o tinha visto ali. Sem pensar duas vezes, aproximei-me lentamente do portão, empurrei-o com a mão e adentrei o lugar. Ao seu redor toda a mata era escura, doentia. Mas ali, dentro das paredes daquele portão, a luz resplandecia como nunca. Dei de cara com um pequeno chafariz. Atrás dele, a porta. Grande, devia ter uns três metros. Cuidadosamente caminhei até ela. Estava entreaberta.
Pude ouvir os ruídos que vinham da madeira seca. E fui andando porta adentro, dando de cara com uma bela escada, a qual dava para uma portinha perto do último degrau. Aquele castelo era diferente de todos os que eu já havia visto. Simples e vazio. Percebi que logo ao canto direito da parede havia um buraco no chão, andei lentamente até ele. Não podia ver nada além dos três primeiros degraus de uma escada de madeira meio podre. Decidi descer.
O lugar era frio, úmido e escuro. As janelinhas aos cantos pouco iluminavam. Senti-me muito só por alguns instantes. Um gato cinza miou baixinho e acariciou minhas canelas com a cabeça, ronronando. Peguei-o no colo. A solidão foi embora.
- Agora tu tens poderes mágicos, muda este lugar, faz dele o que quiseres, continuou a moça.
E o lugar foi então se transformando... A luz continuou fraca, mas a lareira ao canto ajudava a enxergar. Uma poltrona e um tapete logo a frente. Uma pequena estante cheia de livros à esquerda, e um banquinho que serviria de apoio para os livros. Uma adega ao fundo. O lugar estava perfeito.

(em breve postarei a continuação)

sábado, 7 de maio de 2011

Lusco - fusco

"Por um instante, emergindo das profundezas do sonho, fica pairando numa região lusco - fusco, entre os dois mundos.
O relógio continua a tilintar . Cinco segundos. O milagre acontece: o infinito é devorado pelo finito: o mundo ilimitado do sonho desaparece dentro do mundinho de quatro paredes que o despertador enche com sua voz metálica"

Érico Veríssimo (Caminhos Cruzados)

Ao ler este trecho do livro, me botei a pensar loucamente sobre o despertar de um sono profundo. Todas as manhãs ao acordar, os olhos ficam pesados e as pernas parecem não querer sair do lugar. Esses momentos lusco - fusco que ficam no caminho entre o sonho e a realidade são os momentos mais plenos do dia. O momento em que você pode se dar a oportunidade de sonhar acordado, sem que ninguém possa lhe tirar a oportunidade.
Lusco - fusco... Expressão engraçadinha esta, não é? Mas pensando bem eu não acharia forma melhor de definir meus olhos de ressaca ao amanhecer dos dias. A minha vontade de seguir sonhando. Muitos sonham mais acordados do que dormindo, eu sou uma dessas pessoas. Me encontro o tempo inteiro em estado de Lusco - Fusco. E devo dizer-lhes, meus leitores... é maravilhoso!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

I am so last winter.

É chegada a época mais bonita do ano. O inverno. Obrigado estrelas por trazerem o frio de volta. É tão bom olhar para o céu e contemplar a beleza de suas nuvens, que vão ficando infinitamente acinzentadas. Ouvir o sopro do vento ao deitar a cabeça no travesseiro, voltar a tomar chá de morango e sonhar com o nada. O verão é repleto de coisas alegres. Mas é a melancolia do inverno que realmente me atrai.
As mentes solitárias vagando entre xícaras de café, o cheiro de fumaça que vem da lareira e um bom livro. Dias e noites repletas de filosofia, de lembranças boas e ruins. Os corpos frios gritando uns aos outros : "Por favor, me aqueça!" . A beleza das noites vazias, das mentes insanas, dos desejos proibidos.
O inverno trás consigo tudo o que há de mais solitário em cada ser. Os segredos mais ocultos voltam em forma de sombras, e os olhos umedecem com facilidade, escondendo-se por debaixo dos cobertores gelados. Mas trás também um mundo cheio de coisas belas, desperta a euforia extrema do que realmente somos, do que realmente queremos, e de libertar toda e qualquer fanasia que esteja guardada em nossas almas.
O inverno chegou. E eu vou colocar meu casaco, esconder meu rosto com o capuz e caminhar infinitamente no escuro. Observando a fumaça branca que sai de minha boca quando respiro, e desejando que esta época dure muito tempo.

domingo, 24 de abril de 2011

Vanilla Twilight

Eu amo a sua voz e o jeito como fala que me ama. Amo seu cheiro e seu sorriso. Amo quando fica cantando qualquer música ruim no meu ouvido. Amo quando me acorda pela manhã só para dizer bom dia. Mas mais do que qualquer coisa, amo o fato de me fazer sentir tão bem apenas por saber que é recíproco.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Possível última carta ao meu Moço Loiro

Ah, olhos castanhos! Desta vez eu decidi seguir em frente... Precisei me dar a oportunidade de viver e de ser feliz mesmo que sozinha. E aquelas palavras que tanto insiti em lhe dizer eu vou deixar para trás. Sábio é aquele que acredita no amor. Mas no amor que realmente existe, no que faz bem. Aquele tipo de amor que é correspondido. O lado doentio de te querer estou deixando ir embora, para que então não precises ler todas as coisas que eu tanto quis que entendesse.
"Mas em um segundo tudo pode mudar, meu amor." Foi você mesmo quem disse. E sim, eu te guardarei com as minhas verdades, em forma de palavras repetidas. Tantas foram as vezes que desejei sair correndo e não o fiz. Só que agora eu vou correr para a vida! Deixarei de lado o que foi platônico para encontrar o que é real. Porque sentir o que eu sentia não foi o suficiente para me fazer feliz, e eu também não o culpo por nada disso. A culpa não é de ninguém.
A vontade de vê-lo, de tocá-lo... esta vai indo embora com o tempo. Mas o amor que senti, este eu acho que jamais ir. O problema é que amar sozinho não sustenta um coração. Cansei de tentar te decifrar, de brincar comigo mesma. A vida não é um jogo de quebra cabeças que pode ser guardado em uma caixa para tentar montar depois. A vida é aqui, e é agora.

Nunca é tarde pra recomeçar a viver,
com ou sem você.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Chuvas de Verão

São chuvas de barulho

Chuvas de palavras

Chuvas de tudo

Chuvas de nada


São chuvas de tempo

São chuvas em vão

São chuvas que mexem

Com meu coração


São chuvas que molham

Ou chuvas que não

Param, Sentem, Olham

Essas Chuvas de Verão


Daniel

segunda-feira, 14 de março de 2011

Palavras repetidas.

Eu achava que estava melhorando, mas na verdade tudo continua igual. As mesmas árvores com suas folhas secas caindo no mesmo lugar. Os rostos são diferentes, porém suas expressões são exatamente iguais às que eu vejo desde sempre. É como se o tempo passasse e eu ficasse presa em alguma coisa que não me dá liberdade para expressar tudo o que eu queria. A rotina me consome e cada passo parece já ter sido dado.
Eu estou sozinha agora, mais do que nunca. Não tenho onde me segurar e nem preciso, pois o que antes me derrubava agora se tornou também vazio. Tudo vazio. Sempre vazio. Esse sentimento parece que persegue. Simplesmente não quer me deixar. E eu tento olhar para o céu e ver as tão sonhadas estrelas mas elas nunca estão lá. Está tudo escuro. Aqui dentro também está escuro. E luto diariamente para encontrar algo que me faça lembrar de como era bom estar sorrindo, mas não consigo.
E eu encontro em olhos castanhos algo que me faz sentir bem, mas quando está distante é como se eu não estivesse respirando. E está sempre distante. Mantenho as folhas rabiscadas com trechos de tudo o que eu preiso escrever, mas são sempre lembranças. E a vontade de queimar as lembranças é maior do que a de compartilhá-las com quem quer que seja. As palavras acabam saindo sem sentido, mas eu não me importo. Pois ao menos nelas eu encontro vestígios de quem sou, certezas e incertezas que me fazem perceber o quanto ainda estou viva.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Phone call.

- Oi amor, tá com saudade de mim?

Simples palavras que mudaram meu dia, e meu humor.
Hell yeah, I miss him so much!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Com que freqüência os teus sentimentos mudam?

Com que freqüência os teus sentimentos mudam?
Acha que desisto facilmente, mas o fato é que fui vencida pelo cansaço. Aquele belo loiro é que disse algo inteligente: "Não adianta insistir numa coisa que não dá!".
Tu tentas uma vez, duas e até três. Dependendo da intensidade do sentimento até se quebra um pouco mais. Mas chega uma hora que a única coisa que tu podes ver ao redor são lembranças vazias. E quem é que deseja lembranças vazias?
Chame-me de fraca por desistir, mas não te dou o direito de culpar-me por não mais querer tentar. Correndo muito atrás é que perdi o rumo da outra vez. Tenho até medo de pensar nas conseqüências se eu o fizesse novamente. Queria que entendesse que todo o tempo a única coisa que fiz foi amar. E o meu sentimento, este jamais mudou - apesar de eu ter tentado expulsá-lo de mim-. É auto defesa. Ninguém gosta de sofrer. Não se ofenda quando te pergunto com que freqüência teus sentimentos mudam. Sentimentos sempre mudam. Favorecem uns e destroem outros. Mas por ordem natural das coisas, mudam. Eu jamais perguntaria com intenção de ofender, mas infelizmente cada um entende como deseja. Eu quero mesmo é saber o que se passa dentro do alguém que eu tanto desejo. Quero saber se vale a pena eu ainda desejá-lo ou se é melhor me forçar a esquecê-lo. Eu quero respostas.
E agora eu te pergunto, novamente, e, por favor, não pense que quero ferir teus sentimentos com tal pergunta...
Com que freqüência teus sentimentos mudam?

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Só você não viu.

Mechendo nas coisas dele, a mocinha encontrou uma foto. Era uma menina loira, bonita. Parecia bastante feliz. Ficou com medo, ele a tinha chamado para uma conversa em plena noite de domingo.
- Tu tava estranha ontem, disse ele.
- Não tava não. Quem é essa moça?
- Sobre isso que eu queria falar. Tu gosta mesmo de mim?
- Eu gosto, se não gostasse não estaria aqui a esta hora.
- Fala a verdade, não está com outra pessoa?
Certo, agora ela estava realmente confusa.
- Eu não tô com outra pessoa, de onde tirou isso?
- Achei que não quisesse nada sério, disse ele com naturalidade.
- Ok. Então porque a pessoa gosta de beber, de fumar, de fazer loucuras ela simplesmente não sente nada por ninguém? Ela não é capaz de amar de verdade?
- Não é isso, é que não parecia que tu gostava realmente de mim. Eu não sentia isso em ti. Talvez se tivesse demonstrado mais...
- Desde quando gestos falam mais do que palavras? Tem tanta gente que fala, fala e fala e no final era tudo mentira!
- Mas fala sério... se a gente namorasse tu não seria fiel, não é?
- Não acredita em mim? Porque não acredita em mim? Essa mania de achismos me dá uma agonia sem tamanho. Se tinha duvidas porque não perguntou? Porque não disse que gostava de mim também?
Ela tinha ficado realmente nervosa com o fato de estar ouvindo a única pessoa que tinha se dado a chance de amar falar daquela forma.
- Olha... Esquece minha desconfiança. Eu não te perguntei porque não achei necessário. Se eu achasse que tu gostava de mim, com certeza eu teria perguntado. Eu realment não acreditei em ti quando disse q suas palavras eram verdadeiras e tu nã gostava de mentir, disse q me amava... Mas eu não levei a sério.
Ela estava suando frio, seu corpo tremia.
- Ai tu vem me pedir pra admitir que tava com outro, quando é tu quem tá com outra pessoa.
As palavras sairam fugidas de sua boca, mas ela não se arrependeu.
- Se eu soubesse... Não teria feito isso. - Ele gaguejava.
- A gente não pode exigir dos outros o que não faz, não é? Tu disse isso pra mim, mas porque não usou as palavras para ti mesmo? Poxa. Eu falei: NÃO FALA AS COISAS PQE EU VOU ACREDITAR, E SE EU ACREDITAR, FODEU! E tu falou mesmo assim. E eu acreditei, tu pode não ter acreditado quando eu falei, posso parecer uma idiota que sai por ai brincando com amor, mas eu não sou assim. Nem tudo que parece, é.
Parou de falar por um instante, mas as palavras continuavam saindo.
- Mas eu, eu acreditei em ti . Porque eu acredito em quem eu gosto. E se tu não quisesse, tudo bem. eu não iria atrás de outra pessoa por isso. Eu iria continuar vivendo, e se aparecesse alguém, beleza. Mas não de um dia pro outro. A gente não gosta e desgosta das pessoas assim. -
Ela conseguiu finalmente se calar, então ele retrucou.
- Eu sei qu não... Poxa, to me sentido mto inseguro. Tudo que tu falou... Mexeu comigo.
- Pis não desconte isso nos sentimentos dos outros. ninguem tem que pagar pela tua insegurança. não quis que ninguém pagasse pela minha, é injusto. Eu to me sentindo muito idiota, se tu quer saber.
- Eu não te fiz mal por querer, eu nunca te faria mal por querer. Tenso... As vezes a gente machuca quem mais a gente quer cuidar.
Ela olhou para ele e sentou no canto da cama, não conseguia entender de forma alguma como podia se sentir daquele jeito.
- Alguém sempre tem que sair ferrado dessa coisa de gostar, isso é fato! Que saco!
- Não precisa ser assim, disse ele com tranquilidade.
- Imagina se não. Se não for tu, serei eu. E se não eu, a terceira pessoa que está envolvida neste ciclo vicioso.
- Assim parece que o sinônimo de amar é sofrer, como dizem.
- E não é? Porque tu acha que eu não demostro as coisas? Não é por não sentir. É por saber no que dá.
Ela olhava nos olhos dele que pareciam não entender exatamente o que ela queria dizer. As feições do rosto claro, dos olhos escuros... Tudo parecia tão frio agora. Ele parecia frio. A culpa era dela por não ter dito com todas as palavras que amava ele. Aí então ele procurou em outra pessoa o que achava que não encontraria nela. Era uma menina bastante sentimental, apesar de não parecer. Não demonstrava qualquer carinho por medo de não receber de volta. E ela se sentia mesmo culpada por deixar passar alguém tão importante.
- A gente sofre... Mas o que conta são os momentos felizes.
Ele falava com uma naturalidade inacreditável e ela estava ficando nervosa. O tom de sua voz diminuiu significativamente, parecia que ela falava com ela mesma.
- Eles se apagam todos . São engolidos por uma sombra gigantesca do que foi ruim. E aí só sobram os momentos que não aconteceram. Os que a gente queria que tivessem acontecido. Porque esses tão com a gente quando a gente vai dormir. O resto é tomado por mágoa ou sei lá o nome do sentimento que leva tão facilmente o que tinha de bom.
- Eu queria ter tido mais momentos feliz contigo.
- Eu também.
Ela vestiu o casaco, pegou sua bolsa e saiu pela porta. Ele não a seguiu, mas pensou em ligar para saber se ficaria bem, se a veria novamente.
A vida é mesmo uma bagunça de sentimentos. Leva e trás as pessoas todos os dias. Sempre com frieza, sempre sem se importar com a dor. Ela descobriu então a falta que fazem as palavras. E se ela o tiver perdido para sempre? Havia demonstrado seu carinho de uma forma que talvez ele não tivesse entendido. É uma menina simplória. Seus gestos falam por si. Suas palavras quando ditas, saem como uma tempestade que pode ser devastadora. Por isso tem o cuidado de nem sempre demonstrar. Já foi derrubada muitas vezes por sentir.
Mas de certa forma aprendeu que realmente, não se deve deixar o medo de errar impedir que você jogue. As coisas que quer podem estar bem a sua frente, e se alguém não der o primeiro passo, os sentimentos verdadeiros podem ficar escondidos eternamente. Pulsando dentro do coração rancoroso, tirando de você a esperança do que deveria ter sido uma lembrança bonita.