quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Comer, Rezar e Amar. - Filosofia

Igualdade entre os sexos. O assunto vem sendo tratado ao longo de muitos e muitos anos. O que conseguimos até agora? Igualdade, claro; em partes. Ao mesmo tempo em que as mulheres podem trabalhar em lugares em que só homens trabalhavam, podendo exercer grandes cargos e atingindo maior competência na realização das tarefas, a evolução da igualdade traz consigo um lado desigual. Muitos acham que as mulheres estão de certa forma, se masculinizando, e que deveriam voltar aos seus lugares de origem, limpando a casa e dedicando-se a família e ao marido em tempo integral, para evitar problemas.

Tomemos como exemplo o filme O Sorriso de Monalisa, no qual a atriz Julia Roberts interpreta uma professora de classe média, independente e solteira em uma escola na qual as alunas são “programadas” para sustentar uma vida a dois. Com a certeza de que as mulheres têm a capacidade de viver feliz sem um companheiro, valorizando a essência da inteligência e do bom gosto pela arte, livros e músicas, acrescentando os mesmos nas cabecinhas cheias de idéias prontas que são formadas desde sempre e mostrando ideais e perspectivas de vida diferenciadas para as alunas. Enfrenta o preconceito de toda uma instituição e das próprias estudantes, porém, consegue fazê-las enxergar que a vida não é sempre um grande livro romancista e sim uma junção de altos e baixos, que sucedem as escolhas que são tomadas ao longo de uma vida.

Achei toda a história muito bem articulada. Muitas das mulheres ainda pendem para o antigo regime fechado que lhes é apresentado desde a infância. Vivem para encontrar um grande amor. Ah, se soubessem que a vida é mais uma tragédia de Shakespeare do que um clichê romântico de Stephenie Meyer. O belo príncipe encantado em cima de um vistoso cavalo branco é tão last week, e tão impossível de acontecer quanto à chuva no Norte do Brasil.

A busca pelo amor perfeito tem sido deixada de lado para dar espaço à busca de si própria. Preferindo então estudar, trabalhar e conseguir um cargo elevado do que sair desesperada a procura de um grande e invisível amor. A presença masculina virou então o que sempre foi, um complemento a felicidade, e não o motivo da mesma. Voltando então a Julia Roberts que estrela outro filme do mesmo feitio, baseado no livro Comer, Rezar e Amar, de Elizabeth Gilbert. A revista ÉPOCA, de 27 de setembro de 2010, apresentou uma reportagem muito bem escrita, na qual expõe a história do livro e os objetivos de Elizabeth ao escrevê-lo:

“A escritora chegou à meia idade com um casamento sem filhos desfeito, seguido de uma paixão que não deu certo e apenas uma certeza: não sabia mais quem ela era. Deixou para trás tudo o que tinha (ou não tinha) e partiu para uma jornada pelo mundo: Itália, Índia e Bali(...)

O filme, como o livro, é um épico pós feminista: em busca de equilíbrio espiritual e independência emocional, Elizabeth tira o foco do alvo clichê das mulheres – um grande e seguro amor–, e é aí que o encontra. Não como objetivo principal, mas como parte daquilo que se chama felicidade. (....)”

Aí está, talvez Elizabeth tenha retratado em seu livro o que muitas de nós mulheres gostaríamos de fazer. Sair em busca de felicidade. Porque como citado na revista, o amor é uma conseqüência de uma série de conquistas que fazem parte da vida, e quando colocado em primeira opção, torna-se algo um tanto forçado, uma alegria obrigatória. Não quero dizer que encontrar outro alguém e amá-lo é impossível, mas sim que não deve ser algo idealizado ou colocado em primeiro plano. Pode haver tantas coisas tão ou mais incríveis quanto um relacionamento.

E não é de hoje que muitas mulheres vêm deixando de lado uma “carreira” emocional e dedicando-se mais ao que querem, retirada da revista ÉPOCA, uma lista de filmes antigos e atuais que contam histórias de mulheres que largaram tudo em busca da sua felicidade.

“Heroínas que largaram tudo e foram atrás de si mesmas:

(Mulheres do tempo em que os mocinhos não tinham vez)

Shirley Valentine

1989
Shirley Valentine é uma mulher perfeita e tradicional. Todos os dias arruma a casa, passa roupa e prepara o jantar do marido. Só que Shirley está vivendo um momento difícil e acha que essa existência rotineira está acabando com seus velhos sonhos de juventude. Para tentar recuperá-los, viaja por duas semanas para a Grécia com uma amiga. Longe do marido e dos filhos, talvez encontre o amor e quem sabe a liberdade

Presente de grego

1987
Diane Keaton vive uma executiva ambiciosa e bem-sucedida que ganha de “herança” uma bebê, sua sobrinha que ficou órfã. Diante das dificuldades de trabalho de uma mulher com filhos, larga a empresa e vai viver no interior com a menina. Acaba encontrando sua verdadeira vocação, se apaixonando e conseguindo equilibrar seu trabalho com a vida pessoal

Thelma & Louise

1991
As duas protagonistas, feitas por Susan Sarandon e Geena Davis, saem pela estrada, abandonam seus homens, matam um estuprador e dão carona para Brad Pitt. No fim, preferem morrer a continuar vivendo num mundo patriarca

Sob o sol da Toscana

2004
Frances Mayes (Diane Lane), uma escritora que vive em São Francisco, tem uma vida perfeita até que se divorcia do marido. Decide comprar uma chácara na Toscana para descansar e começar uma nova fase em sua vida. Enquanto reforma a casa, conhece um homem que a faz redescobrir seus sentidos.”

Talvez o dia em que pararem de procurar e de idealizar tanto a figura masculina, as ilusões se terminem e cada mulher vai ter consciência de que o amor não existe apenas em uma vida a dois, e que os sorrisos que vão fazer seu rosto brilhar podem vir de lugares completamente inusitados, e a figura masculina vai se tornar cada vez menos necessária. E eu digo necessária no sentido de necessidade extrema. As mulheres vão continuar amando os homens e chamando-os de cachorros, galinhas, canalhas e toda essa imensa lista de bobagens; e vão continuar a procura deles. O que deveria ser diferente é que essa procura precisa ser algo que acontecesse ao natural, e não uma necessidade de auto- afirmação.

Um comentário:

  1. Concordo que a "figura" (o eu imagem) é valorizado demais em detrimento do "eu interior". É por isso que, na minha opinião, tanto mulheres quanto homens se "quebram".

    e adorei isso> "O que deveria ser diferente é que essa procura precisa ser algo que acontecesse ao natural, e não uma necessidade de auto- afirmação." ;D

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