terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Só você não viu.

Mechendo nas coisas dele, a mocinha encontrou uma foto. Era uma menina loira, bonita. Parecia bastante feliz. Ficou com medo, ele a tinha chamado para uma conversa em plena noite de domingo.
- Tu tava estranha ontem, disse ele.
- Não tava não. Quem é essa moça?
- Sobre isso que eu queria falar. Tu gosta mesmo de mim?
- Eu gosto, se não gostasse não estaria aqui a esta hora.
- Fala a verdade, não está com outra pessoa?
Certo, agora ela estava realmente confusa.
- Eu não tô com outra pessoa, de onde tirou isso?
- Achei que não quisesse nada sério, disse ele com naturalidade.
- Ok. Então porque a pessoa gosta de beber, de fumar, de fazer loucuras ela simplesmente não sente nada por ninguém? Ela não é capaz de amar de verdade?
- Não é isso, é que não parecia que tu gostava realmente de mim. Eu não sentia isso em ti. Talvez se tivesse demonstrado mais...
- Desde quando gestos falam mais do que palavras? Tem tanta gente que fala, fala e fala e no final era tudo mentira!
- Mas fala sério... se a gente namorasse tu não seria fiel, não é?
- Não acredita em mim? Porque não acredita em mim? Essa mania de achismos me dá uma agonia sem tamanho. Se tinha duvidas porque não perguntou? Porque não disse que gostava de mim também?
Ela tinha ficado realmente nervosa com o fato de estar ouvindo a única pessoa que tinha se dado a chance de amar falar daquela forma.
- Olha... Esquece minha desconfiança. Eu não te perguntei porque não achei necessário. Se eu achasse que tu gostava de mim, com certeza eu teria perguntado. Eu realment não acreditei em ti quando disse q suas palavras eram verdadeiras e tu nã gostava de mentir, disse q me amava... Mas eu não levei a sério.
Ela estava suando frio, seu corpo tremia.
- Ai tu vem me pedir pra admitir que tava com outro, quando é tu quem tá com outra pessoa.
As palavras sairam fugidas de sua boca, mas ela não se arrependeu.
- Se eu soubesse... Não teria feito isso. - Ele gaguejava.
- A gente não pode exigir dos outros o que não faz, não é? Tu disse isso pra mim, mas porque não usou as palavras para ti mesmo? Poxa. Eu falei: NÃO FALA AS COISAS PQE EU VOU ACREDITAR, E SE EU ACREDITAR, FODEU! E tu falou mesmo assim. E eu acreditei, tu pode não ter acreditado quando eu falei, posso parecer uma idiota que sai por ai brincando com amor, mas eu não sou assim. Nem tudo que parece, é.
Parou de falar por um instante, mas as palavras continuavam saindo.
- Mas eu, eu acreditei em ti . Porque eu acredito em quem eu gosto. E se tu não quisesse, tudo bem. eu não iria atrás de outra pessoa por isso. Eu iria continuar vivendo, e se aparecesse alguém, beleza. Mas não de um dia pro outro. A gente não gosta e desgosta das pessoas assim. -
Ela conseguiu finalmente se calar, então ele retrucou.
- Eu sei qu não... Poxa, to me sentido mto inseguro. Tudo que tu falou... Mexeu comigo.
- Pis não desconte isso nos sentimentos dos outros. ninguem tem que pagar pela tua insegurança. não quis que ninguém pagasse pela minha, é injusto. Eu to me sentindo muito idiota, se tu quer saber.
- Eu não te fiz mal por querer, eu nunca te faria mal por querer. Tenso... As vezes a gente machuca quem mais a gente quer cuidar.
Ela olhou para ele e sentou no canto da cama, não conseguia entender de forma alguma como podia se sentir daquele jeito.
- Alguém sempre tem que sair ferrado dessa coisa de gostar, isso é fato! Que saco!
- Não precisa ser assim, disse ele com tranquilidade.
- Imagina se não. Se não for tu, serei eu. E se não eu, a terceira pessoa que está envolvida neste ciclo vicioso.
- Assim parece que o sinônimo de amar é sofrer, como dizem.
- E não é? Porque tu acha que eu não demostro as coisas? Não é por não sentir. É por saber no que dá.
Ela olhava nos olhos dele que pareciam não entender exatamente o que ela queria dizer. As feições do rosto claro, dos olhos escuros... Tudo parecia tão frio agora. Ele parecia frio. A culpa era dela por não ter dito com todas as palavras que amava ele. Aí então ele procurou em outra pessoa o que achava que não encontraria nela. Era uma menina bastante sentimental, apesar de não parecer. Não demonstrava qualquer carinho por medo de não receber de volta. E ela se sentia mesmo culpada por deixar passar alguém tão importante.
- A gente sofre... Mas o que conta são os momentos felizes.
Ele falava com uma naturalidade inacreditável e ela estava ficando nervosa. O tom de sua voz diminuiu significativamente, parecia que ela falava com ela mesma.
- Eles se apagam todos . São engolidos por uma sombra gigantesca do que foi ruim. E aí só sobram os momentos que não aconteceram. Os que a gente queria que tivessem acontecido. Porque esses tão com a gente quando a gente vai dormir. O resto é tomado por mágoa ou sei lá o nome do sentimento que leva tão facilmente o que tinha de bom.
- Eu queria ter tido mais momentos feliz contigo.
- Eu também.
Ela vestiu o casaco, pegou sua bolsa e saiu pela porta. Ele não a seguiu, mas pensou em ligar para saber se ficaria bem, se a veria novamente.
A vida é mesmo uma bagunça de sentimentos. Leva e trás as pessoas todos os dias. Sempre com frieza, sempre sem se importar com a dor. Ela descobriu então a falta que fazem as palavras. E se ela o tiver perdido para sempre? Havia demonstrado seu carinho de uma forma que talvez ele não tivesse entendido. É uma menina simplória. Seus gestos falam por si. Suas palavras quando ditas, saem como uma tempestade que pode ser devastadora. Por isso tem o cuidado de nem sempre demonstrar. Já foi derrubada muitas vezes por sentir.
Mas de certa forma aprendeu que realmente, não se deve deixar o medo de errar impedir que você jogue. As coisas que quer podem estar bem a sua frente, e se alguém não der o primeiro passo, os sentimentos verdadeiros podem ficar escondidos eternamente. Pulsando dentro do coração rancoroso, tirando de você a esperança do que deveria ter sido uma lembrança bonita.

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