domingo, 19 de setembro de 2010

Recíproca.

Disse que precisava de um tempo, virou as costas e saiu, batendo a porta. Sentei no canto do tapete empoeirado e acendi um cigarro. A cortina estava entreaberta, enquanto as palavras ecoavam em minha cabeça, eu sentia o sol que passava pela pequena fresta. Os carros lá embaixo, as pessoas cruzando a rua correndo. Todas pareciam tão felizes com a mesmice de sua vida. E as palavras ainda ecoando...Infelizmente a recíproca não era verdadeira.
Da última vez que ele fez isso, voltou cinco minutos depois. Mas já haviam se passado dez, e a porta ainda estava fechada. Sentia medo de trancá-la. E se ele resolvesse voltar no meio da noite? A chave dele estava jogada no chão perto do meu pé. Ah, como eu adoro me iludir. Ele não iria voltar mais.
Daquela vez havia sido diferente. Eu via a angústia nos olhos dele gritando comigo. Repetia e repetia "Não adianta insistir numa coisa que não dá!", enquanto eu repetia que o amava. Cada vez que eu falava ele ficava mais nervoso, decidi me calar e ficar olhando para seu rosto. Erro meu. A expressão odiosa não saiu mais da minha cabeça. E é claro, meus olhos foram ficando úmidos novamente.
Ele havia mentido que precisava de mim. Até seus olhos me enganaram desta vez. Não queria deixar ele sair, queria abraçá-lo e entender o que estava acontecendo. Ele me empurrou e tornou a gritar. Tapei os ouvidos com as mãos e mandei ele ir embora, se era o que tanto desejava. Voltando então as palavras ja citadas, a porta se bateu.
E talvez tenha sido melhor mesmo, talvez eu prefira ficar sozinha do que enganando a mim mesma. Palavras vazias eu dispenso.

Um comentário:

  1. "E talvez tenha sido melhor mesmo, talvez eu prefira ficar sozinha do que enganando a mim mesma. Palavras vazias eu dispenso." Soa tão completo, tão profundo. Amei.

    ResponderExcluir