terça-feira, 23 de junho de 2020

Sobre a solidão da mulher gorda.

Primeiramente, gostaria de deixar claro que não pretendo com essa publicação diminuir as vivências de outras mulheres com seus corpos. Falo aqui da minha experiência pessoal: mulher, gorda, branca, heterossexual. Esse leque é muito maior e tenho plena consciência disso. 

A verdade é que a mulher gorda é solitária. Ela passa a infância sendo punida pela família, que a lembra diariamente que há algo errado com ela. Na escola, os coleguinhas fazem piadas que marcam o resto da vida. Mas acredito que a adolescência seja o processo mais cruel de todos. É nessa fase que descobrimos os primeiros amores, os primeiros beijos... Para a mulher gorda, também é esse o momento da vida em que se percebe a rejeição. 
Foi nessa época que entendi a diferença que o mundo tem para quem vive em um corpo considerado dentro do padrão. Percebi, já adulta, o quanto as mulheres gordas são sozinhas. Foi depois das primeiras experiências em lugares públicos como festas ou reuniões de amigos, mais ou menos aos 15 anos, que o ódio que eu sentia por mim mesma foi crescendo, fazendo com que eu me isolasse de qualquer grupo social que eu poderia ter. Sempre tive grupos de amigos, mas quando chegava o momento de botar o pé para fora e descobrir o mundo e as experiências dos 15 anos, dava um passo para trás. 
Troquei de escola, conheci novos amigos, melhorei muito a vivência em grupos. Mas o sentimento de vergonha nunca foi embora. Doeu perceber como não havia nesses grupos possibilidades de flerte, beijo na boca ou até mesmo sexo (a não ser que ninguém soubesse, né?). De todas as vivências que tive, posso afirmar com propriedade que a mulher gorda é a amigona do rolê, a engraçada, a parceira de todos. Mas dificilmente ela é vista como uma parceira para a vida, ficante ou namorada. A gente também acaba por vestir um escudo que dificulta ainda mais a aproximação daqueles que se interessam de alguma forma, pois as primeiras experiências deixam marcadas na gente aquele sentimento de insuficiência. 
Ao longo da vida, aprendi a lidar de alguma forma com essas rejeições e transformá-las em aprendizado para modelos de relacionamento que nunca mais vou repetir. Sabe o que eu escuto? 
"Laura, tu é muito exigente!". 
Mulheres (que habitam qualquer corpo): não é muita exigência pedir respeito. Não é muita exigência esperar o mínimo. Não é muita exigência não se permitir estar em relacionamentos medianos. Todas merecemos o melhor. Independente do corpo que nos carrega. 

Não faz muito tempo desde a minha última péssima experiência de baixa guarda. É difícil quando a gente revisa tudo o que aconteceu e percebe que aquele cara, o legalzão do role, o descontruído que jamais iria deixar de te olhar por ser gorda... Bem, nada novo sob o sol. E dói quando você se dá conta de que sim, a sua aparência conta como ponto definitivo, pois se você tivesse outro estereótipo o fim da história seria diferente, e você sabe bem disso. Afinal: se você é inteligente, uma amiga sensacional, uma pessoa maravilhosa.. qual pode ser o problema?

Todo mundo vai negar e vai dizer que não é assim.
Mas é. 
E eu tenho uma notícia pra você que tá lendo e achando um abusrdo: você provavelmente já fez isso também, mesmo que inconscientemente. 

Mas também tenho um conselho bom pra você, mulher gorda: Já se passaram alguns anos, como já disse nos textos anteriores, que tenho trabalhado as questões do meu corpo comigo mesma. Infelizmente, por mais que o sentimento seja de evolução, é normal nos colocarmos em situações que nos façam confrontar e questionar todo o processo de aceitação. O que a gente não pode é deixar esse sentimento de derrota ser predominante. Também não podemos pensar em nós mesmas como menos merecedoras do amor. Não podemos nos contentar com migalhas. 
No livro "As vangatens de ser invisível", me deparei com a seuginte frase: Cada um tem o amor que acha que merece. E ela mudou minha vida. Ninguém esta fazendo um favor ao te amar. A gente merece sempre, em qualquer tipo de relacionamento, o melhor! 
Toda vez que você se sentir insuficiente, lembre-se de todas as coisas boas que você já fez por você mesma. Arrume o cabelo, vista uma roupa incrível. Lembre-se principalmente de que não é um relacionamento ou uma experiência ruim que te definem, Você é muito mais que isso. Coisas boas e pessoas maravilhosas estão por vir. As vezes a gente precisa se desprender das nossas próprias amarras para encontrar o caminho e as pessoas certas, que irão endenter e respeitar todas as vivências ruins, abrindo espaço para outras milhares de lembranças espetaculares. 

Um beijo e até a próxima :)





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