sexta-feira, 2 de julho de 2010

É só você que tem a cura pro meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto.

Novembro de 2009. O céu escuro e sem estrelas, a noite não tão fria. Todos os alunos da escola estavam com suas roupas novas, e suas garrafas de bebidas preparando-se para a festa que viria a seguir. Escolha da Rainha, lembro bem do ambiente. Não muito grande, apenas algumas mesas, uma pista de dança e um pequeno palco. As luzes já estavam apagadas. A música alta impedia que eu ouvisse o que me falavam. Encontrei uma amiga com a qual não conversava a um bom tempo. Júlia, era o nome dela. Melhores amigas desde o primeiro ano do Ensino Médio, sabiamos tudo uma sobre a outra. Por motivos que não são necessários citar, deixamos de nos falar por um tempo. Sem brigas e maiores reclamações, apenas não nos falamos mais.
Mas voltando a festa, encontrei ela no bar do local. Ela me abraçou entusiasmada, não entendo até hoje o porque, e disse sorrindo:
- Que saudade! Agente precisa conversar... Sinto falta de você...
- Eu também, respondi. Agente se fala fora da festa, amanhã ou depois. - Me despedi e saí com minha bebida.
Quando estava voltando ao bar, lá estava ele. Daniel. Meu corpo gelou. Logo a sua frente estava Júlia. Parei, olhei assustada. Ela bebeu um gole da cerveja dele, beijaram-se. Respirei fundo e virei as costas prometendo a mim mesma que não choraria. Sentei em uma mesa perto da pista de dança. Bebi. Não demorou muito para outro amigo chegar e falar comigo. Na época ele dizia gostar de mim.
- Eu já vi, disse ele. Também já falei com ele. Acorda, ele não te quer.
Sorri para ele e fui até o banheiro pensando 'Como se eu já não soubesse'. Tudo passava rápido na minha cabeça, como um filme acelerado. Os momentos em que eu conversava com ela, dizia como me sentia em relação a Daniel, para ouvir ela dizer que sentia saudade e beijar ele dois minutos depois. Aquele maldito Daniel e seus cabelos castanhos. O casaco de couro surrado e a calça jeans escura. O beijo. Entrei no banheiro, respirando ofegante. Sentei em um dos boxes, fechei a porta. Baixei a cabeça. Podia sentir minhas lágrimas tomando forma e caindo dos meus olhos. Por um instante eu fiquei ali, remoendo as coisas, me culpando e reclamando da vida. Até chegarem algumas amigas e me convencerem a voltar para a festa.
Decidi que precisava mesmo me recompor. Bebi algumas doses e fui dançar. Já eram quase quatro eu e um grupo de umas dez pessoas decidimos ir para o apartamento de um colega, por infortúnio do destino, era o apartamento de Daniel também.
Ao chegar, peguei uma cerveja e me encostei na janela. Como de costume, olhando para o céu e observando as estrelas. Lembrando da antiga história das 380 estrelas das quais ele havia me falado em nossa última conversa. Eu tentava fingir que ele não estava ali, mas era bastante difícil. De qualquer forma, me diverti. Não trocamos nenhuma palavra, apenas alguns olhares. Já estava indo embora, fuui a última a sair do quarto, quando ele me puxou pelo braço.
- Fica mais um pouco. - disse ele, me olhando.
- Me dá um bom motivo. - falei, séria.
- Eu tô aqui...
- Preciso ir embora, já tá tarde. - me afastei, fazendo com que ele largasse meu braço.
- Fica por favor.
Olhei para ele, sorri e saí pela porta. Desci as escadas do prédio, transtornada com a cena dele e de Júlia se beijando algumas horas atrás. Cheguei na entrada. Pensei por alguns instantes. Pedi a chave a um amigo e voltei correndo. Quando cheguei na sala, ele estava saindo do banheiro. Ao notar minha presença, me olhou, espantado. Me aproximei depressa, irritada.
- Qual é o teu problema? - eu disse.
- O que? Não to entendendo.
- Sabe que eu gosto de ti, sabe muito bem. Beijou a minha 'melhor amiga' na minha frente, e depois me pede pra ficar. Repito, qual é o teu problema?
- Problema nenhum... eu nem te vi naquela festa, loca. - maldito costume que ele tem de me chamar de 'loca'.
- Sou pequena, né? - debochei.
- Não to te entendendo, tu vai embora depois volta....
Peguei uma cerveja que estava em cima da cômoda improvisada no meio da sala, sentei no sofá, bebi, respirei fundo e disse olhando para ele:
- Eu queria ficar perto de ti. Sentir teu cheiro, te abraçar. - baixei a cabeça, mordendo o lábio.
- Vem aqui, disse ele me puxando pela mão e me levando até o quarto. Sentei na cama, ele estava só de bermunda, em pé na minha frente.
- Eu tô aqui, ta vendo? Faz o que quiser comigo. Eu sou teu, tu sabe.
- Não sei de nada não.
- Tem dez segundos, vou começar a contar. Tu pode chegar perto de mim e fazer o que quiser, ou sair pela porta.
Como o quarto estava escuro, apenas a luzinha que vinha da fresta da porta brilhava.
- Um, dois, três, quatro..., quando vi ele já estava ali, contando os segundos.
Respirei o mais fundo possível, levantei, abracei ele pela cintura e o beijei.
Nunca havia beijado alguém com tanta vontade antes, nunca havia desejado tanto sentir o gosto que a outra pessoa teria. Foi um beijo longo, calmo, tão bonito quanto os anteriores. Parei de beijá-lo e olhei em seus olhos, que finalmente estavam olhando para mim de verdade, ele sorriu e disse:
- Era isso que eu queria que acontecesse.

Um comentário:

  1. escreves bem e tu sabe! ninguem tem que te julgar, pq tu que sabe de teus motivos! =D

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