segunda-feira, 19 de abril de 2010

Foi embora o meu amor...

Olhava pensativa pela janela. O céu estava claro embora fosse noite. A lua cheia brlhava tão bela quanto nunca. Algo dentro de mim sabia que algo bom ia acontecer. Eu estava sentada na minha velha poltrona xadrez, vendo o café esfriar lentamente. Foi quando a porta se abriu.
- Eu já não disse que não te quero mais aqui? - falei.
- Já disse sim. Pode dizer denovo, não importa o que me seja dito. Eu vou continuar voltando para você.- respondeu.
Olhei para ele por um instante. Seus olhos brilhavam, mas não de alegria. Estavam mesmo é cheios de lágrimas. "Que bela cena!", pensei comigo mesma. Demorou, mas aconteceu. E olha que eu nunca acreditei que fosse possível vê-lo aqui, implorando por mim. Pude perceber o quanto suas mãos tremiam. Por um instante eu quis beijá-lo. Mas as lembranças dos beijos agora tinham um gosto amargo. Havia naquela boca antes tão doce, o sabor da traição. Respirei fundo.
-Guarde para si essas palavras furadas! Fale para alguém que esteja interessado em ouvir. - Eu agora respirava mais devagar, indiferente aos olhares melancólicos.
Está certo que por dentro não era exatamente assim que me sentia, mas ele não precisava saber.
-Eu te amo. Todas as coisas erradas que disse estão me matando agora. Antes de te conhecer eu não sabia quem eu era, mas você me ensinou. - agora ele chorava.
-Me poupe de ouvir essas baboseiras de amor. Eu não te ensinei essa melação toda. Não mesmo. Não te quis nem por um instante. -
Eu sabia muito bem que as palavras que saíam da minha boca não passavam de asneiras, mas precisavam ser ditas. Verdade ou não, era aquilo que eu devia falar.
- E todas as vezes que disse que me amava? E tudo o que sempre escreveu? Não pode ter sido tudo uma mentira.
-Não importa o que eu falei. Como você mesmo disse que aconteceria, me arrependi. Me arrependi de dizer que amo um imbecil. Me arrependi, ponto. Vá embora!
Se ele soubesse que não eram reais minhas palavras, não teria saído por aquela porta. Mas ele foi embora, sem dizer nada.
Virou as costas e saiu, sem deixar vestígio algum. Meus batimentos estavam a mil, eu chorava agoniada. Mas não podia ser diferente. Havia aprendido a viver sem ele, e era assim que deveria ser. Sem ele. Eu me acostumaria um dia. Pela janela, assisti ele atravessar a rua.
Do outro lado da calçada , ele olhou para cima. Um caminhão se aproximava. De um instante para o outro, já não estava mais ali. Meus olhos o perderam. Quando pude ver novamente, lá estava ele. Debaixo do caminhão. Morto.
Seu sangue escorria pela rua, o corpo mutilado, assim como eu estava por dentro. Corri. Quando cheguei lá embaixo, já era tarde. Eu sabia que já era tarde. Chorei, chorei como nunca havia chorado antes em minha vida. Uma sensação estranha percorreu meu corpo. Alívio e culpa ao mesmo tempo.
Foi embora o meu amor... e levou consigo tudo de ruim que havia feito para mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário