sexta-feira, 2 de abril de 2010

Café preto.

Queria mais uma vez sentir o gosto daqueles lábios tão sedentos por calor. Ouvir aquela voz sussurando no meu ouvindo as coisas mais sem sentido possíveis.
Acordei cedo naquela manhã. Ao olhar para o lado, vi que ele ainda dormia ali. Sua respiração estava profunda, como se estivesse suspirando calmamente. Sua cabeça estava deitada no travesseiro tão suavemente colocada, que eu podia imaginar que daquela expressão vinham sonhos lindos.
Naquela época, eu morava em um pequeno apartamento. Apenas cozinha, banheiro e um pequeno quarto. As paredes eram brancas e os móveis semi-novos. Nada muito caro, mas as coisas não estavam definhando como antigamente. A cama era pequena, mas cabiam duas pessoas. Ele não era muito grande, um pouco maior que eu, apenas.
Eu estava-o fitando desde o momento em que acordei, já faziam umas duas horas, eu acho. Foi acordando, sonolento. Repousou seu braço esquero ao redor do meu pescoço, sorriu. Acariciou meu rosto. Seus dedos passaram delicadamente por cada traço. Mexia em meus cabelos negros. Eu gostava de sentir suas mãos frias na minha pele. Resolveu se levantar. Eu já sabia o que estava por vir e pensei comigo mesma 'denovo não.'
-Já vai? - perguntei.
-Claro! Já são quase dez da manhã loca.
-Fica e toma café comigo. - pedi, choramingando.
-Já fiquei aqui tempo demais, até mais do que eu deveria. O que mais você quer de mim?- ele acendeu um cigarro.
-Você sabe muito bem o que eu quero. - respondi, baixinho.
-Eu nunca vou ser essa pessoa que você quer que eu seja, nem vou conseguir te dar o que quer.- Fechou o zíper da calça, colocou a camiseta e saiu pela porta, sem fechá-la direito.
Fui até ela, tranquei. Fiz meu café preto e sentei em uma cadeira que ficava perto da janela. Vi-o partindo, atravessando a rua. Mais uma vez.
Percebeu também a diferença? Como ele fica rude quando falo o que ele quer - ou não - ouvir? Não é a primeira vez que ele sai correndo por esta porta depois de ouvir que eu o amo. Ao menos hoje não a bateu, nem levantou demais a voz. Meus ouvidos agradecem.
Quando cobro o mínimo de amor, que não seja carnal, termino assim: Tomando um café. Mas sabe que eu até prefiro assim do que como era antes. Ao menos à noite ele é meu, um pouco meu. Prefiro vê-lo ao meu lado ao acordar, a não poder olhar naqueles olhos castanhos. Mesmo sabendo que sempre vou ter que vê-lo sair logo em seguida.

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