segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Worst Nightmare

(Invasão de alheios... ^^' estou aqui eu me aproveitando novamente da bondade alheia para postar algumas coisas...)

Sabe aqueles dias em que você tem a certeza de que alguma coisa está terrivelmente errada? Você procura tentar descobrir o que está acontecendo e não consegue. O dia vai passando e essa certeza vai ficando cada vez mais forte. Mas em determinado momento do dia essa sensação desaparece e o dia segue normalmente. Eu tive um dia parecido. A única diferença foi que não era só uma sensação.

Tudo começou quando eu abri os olhos. Comecei a ficar com dor de cabeça, mas pensei que fosse por causa dos pesadelos que eu tenho tido nos últimos tempos. Sentei-me na cama e tonteei um pouco. Fiquei sentado mais um tempo e me levantei para tomar banho para ver se minha cabeça arejava. Depois do banho fui para a cozinha.

Pela hora que era, esperava ver todos tomando café, mas a cozinha estava vazia, a luz desligada e não havia indício de café da manhã ali. Minha mulher também não estava na cama, não a ouvi levantar e a casa estava mergulhada em um silêncio profundo e mortal, o que me deixou bastante apreensivo. Sentei-me numa cadeira e tentei raciocinar o que poderia ter acontecido, olhei para o corredor e vi um vulto passando para o meu quarto. Não podia ser meu filho, era grande demais para ser ele. Cheguei à conclusão que poderia ser duas coisas: minha mulher indo para o quarto ou, na pior das hipóteses, um ladrão.

Fui para a garagem e pequei um dos meus tacos de golfe para o caso de que fosse a segunda opção. Fui muito devagar para o quarto, olhei pela porta semi-aberta e vi minha mulher deitada na cama. Senti um grande alivio em saber que estava tudo bem. Guardei o taco e voltei para o quarto.

Quando entrei novamente no quarto minha mulher estava num sono muito pesado e eu ia acordá-la quando uma coisa me chamou atenção: estava escuro, mas pelo relógio já era para ter amanhecido. Acordei-a e perguntei se o relógio estava certo, ela me olhou com uma cara de sono, olhou para o relógio e disse que estava. Então olhei para o relógio novamente e vi que eram três horas da manhã. Aquilo me deixou muito perplexo, eu podia jurar que vi o relógio marcar outro horário até alguns segundos atrás. Depois perguntei para ela se ela havia saído do quarto, já que quando eu acordei o lado dela da cama estava vazio, mas ela me disse que não acordara nem por um instante. Depois ela ainda me olhou melhor e perguntou por que eu já estava vestido, eu apenas dei um beijo nela, tirei a roupa e deitei na cama. Teve ainda outra coisa que me deixou inquieto naquele momento: por que meu despertador tocou tão cedo? Fiquei pensando na possibilidade de eu estar sonâmbulo. Estranhei um pouco isso, mas logo estava dormindo novamente.

Acordei, olhei para o lado e minha mulher novamente não estava lá. Mas não me surpreendi já que ela sempre acorda mais cedo que eu. Sentei e minha cabeça começou a girar, o que me fez lembrar do que acontecera à noite. Assustei-me com o fato de estar sentado bem no mesmo ponto da cama e na mesma posição. Só por precaução fui um pouco para o lado.

Eu estava me sentindo sujo, precisava de outro banho. Coloquei o roupão e fui para o banheiro. Quando estava tirando a roupa percebi que minhas roupas de baixo eram as mesmas que eu estava usando ontem, como se eu não tivesse tomado banho. Tentei não pensar muito nisso. Entrei debaixo do chuveiro e me senti bem melhor.

Fui para a cozinha, que estava inabitada e novamente sem indícios de café da manhã. Corri para a janela para ver se realmente havia amanhecido. Depois de ter certeza que, desta vez, eu estava na hora certa, sentei numa cadeira e vi um vulto passando pelo corredor. Pensei que ia enlouquecer. Ter um sonho daqueles até que era normal, mas quando começa a acontecer tudo de novo não há vivente que não estranhe.

Corri para o quarto e vi minha mulher arrumando a cama. Tinha várias perguntas para fazer, mas fiquei quieto por um tempo observando ela trabalhar. Depois ela falou que tinha que sair mais cedo, por isso não fez café. Disse para mim me arranjar com a comida.

Depois de mais um tempo parado observando ela, perguntei se havíamos conversado naquela noite. Ela se virou e balançou a cabeça negativamente, pensou por um instante e balançou a cabeça novamente, se levantou, me deu um beijo, pegou nosso filho e saiu.

Resolvi verificar a garagem para ver se meus tacos de golfe estavam no lugar. Entrei na garagem e vi meu saco de tacos do outro lado do carro, onde eu sempre o deixava. Abri-o para verificar e senti falta do meu taco de estimação, bem aquele que supostamente teria pego noite passada. Resolvi então procura-lo no sofá, já que foi lá que eu o larguei.

Na sala eu olhei em todos os cantos, mas não o achei. Pensei que seria mais oportuno procurar depois do trabalho, quando eu tinha mais tempo. Olhei para o relógio e vi que já estava atrasado, então resolvi nem tomar café. Fui para a porta da frente tomar um ar. Chamou minha atenção o fato da rua estar completamente vazia e todo aquele silêncio incomum nos dias de hoje. Mas entrei logo porque precisava sair.

Passei uma água no rosto e fui para a garagem. Quando abri a porta fiquei estático olhando para o lugar onde deveria estar meu carro. Não fazia sentido ele ter sumido assim, afinal eu o vira alguns minutos antes e as chaves estavam em minhas mãos. Tentei ligar para minha mulher, mas ela não atendia, assim como todos os outros números para quem tentei ligar.

Por algum motivo senti que precisava sair. Abri a porta e vi o carro estacionado onde havia um grande vazio até pouco tempo atrás. Apaguei rapidamente a informação da minha mente, apenas entrei no carro e dei a partida.

Fui na direção ao centro da cidade. Normalmente eu chegaria lá em quinze minutos se eu fosse sempre reto, mas vinte minutos depois eu ainda não havia saído do meu bairro. Passado mais algum tempo, já preocupado com o fato de que iria me atrasar demais para o trabalho, tive a impressão de ter passado na frente da minha casa, o que seria impossível, já que não fiz nenhuma curva. Coloquei na minha cabeça que foi só uma impressão e continuei andando, desta vez prestando atenção nas casas ao redor. Nada me pareceu estranho até eu avistar o campo de futebol que fica que fica a duas quadras da minha casa. Sem contar que o campo fica para o lado oposto àquele que eu havia saído. Pensei que ia enlouquecer. Aliás, eu já estava louco.

Andei mais um pouco e parei em casa para ver se minha cabeça parava de rodar. Fiquei na cozinha ainda um bom tempo olhando para o nada, depois me levantei e abri a porta da frente. O carro não estava lá. Fiquei desesperado e quase arranquei meus cabelos. Isso não podia ser possível. O carro tinha alarme e a chave ainda estava comigo. Peguei o celular e tentei lugar para alguém, mas novamente, ninguém atendia. Fui para o banheiro, lavei a cara, caminhei um pouco pela casa e, por fim, fui parar na garagem. Quase cai para trás quando vi o carro alí. Era surreal demais e eu já estava começando a surtar.

Tirei a chave do bolso e ela começou a balançar, percebi então que eu estava tremendo. Entrei no carro esperando que já fosse quase hora do almoço, mas meu relógio indicava que ainda faltava meia hora para começar o trabalho. Minha pálpebra esquerda começou a contrair-se involuntariamente. Não entendia aquilo, mas tinha certeza de uma coisa: alguém lá em cima não gostava nem um pouco de mim.

Desta vez consegui chegar ao centro. Olhei para aqueles prédios e imaginei que iria me perder de novo, mas não foi isso que aconteceu. Na verdade, o que aconteceu foi que a cidade estava vazia. Liguei o rádio e fiquei olhando para os prédios e as calçadas tentando achar algum sinal de vida. Já nem me assustava mais, tanto que comecei a dar risada do nada.

Um pouco antes de chegar ao prédio onde trabalho a rádio que estava ouvindo começou a chiar e desviei a atenção na pista por um instante para mudar de estação. Nenhuma estava funcionando. Ouvi uma buzina, olhei para frente e freei repentinamente. Havia uma fila quilométrica de carros num congestionamento que até dois segundos não existia. Meu coração disparou, estava suando frio e as dobras dos meus dedos estavam passando de vermelho para roxo. Mais um pouco eu acho que teria entortado o volante ao som de uma música que dizia “last chance to lose control” no rádio que acabara de voltar.

Estacionei numa vaga ali mesmo, já que eu estava perto do trabalho e aquela fila parecia que ainda iria demorar a sair do lugar. Saí do carro e fui andando até o trabalho. A primeira coisa que notei quando entrei foram algumas mudanças nada sutis no hall de entrada, parecia mais um palácio presidencial do que um prédio comercial, mas as pessoas pareciam nem notar essas mudanças. Mas o que mais me surpreendeu foi quando abri a porta da minha sala, havia virado um cubículo. Meu queixo caiu no chão. Só tinha uma mesa e uma cadeira. A única coisa que eu me perguntava era onde tinham ido parar as minhas coisas.

Entrei no escritório me arrastando e sentei naquela cadeira dura, estava pasmo. A situação piorou ainda mais quando olhei para o canto daquele cubículo e meu queixo quase furou o piso. Havia três pilhas de quase um metro de relatórios para corrigir. Fiquei admirando aquilo mais um tempo e fui até lá contra minha vontade. Havia uma folha em cima de toda aquela papelada escrita “entregue tudo pronto até o final do dia”. A primeira coisa que me veio à cabeça foi três pilhas de relatório pegando fogo, mas depois pensei melhor e vi três pilhas voando pela janela na minha cabeça, já que o fogo poderia incendiar o prédio inteiro, se bem que não parecia mais uma má idéia fazer isso.

Quando estava me convencendo a colocar minha idéia em prática bateram na porta do escritório. Era a assistente do meu chefe dizendo que ele queria falar comigo e era urgente. Acho que ela até se assustou quando me viu, pudera, eu parecia um demente. Não, eu estava demente. Fiquei ali parado ainda um tempo tentando restabelecer, depois saí e peguei o elevador para subir até a sala dele. Mas o elevador não subiu; mais ou menos na metade do caminho a luz resolveu acabar.

Não sei bem certo o que acontecei depois. Acho que soltei um grito que ecoou no prédio inteiro. Quando a luz resolveu resolve voltar eu não estava mais no elevador, estava sentado num canto de uma sala toda estofada de vermelho com alguns detalhes em dourado e em madeira fina. Cheguei à conclusão que era a sala do chefe por causa de todo aquele luxo, mas ela estava vazia. Ele queria falar comigo, mas não estava lá. Olhei para o relógio e eram quase doze horas, mas eu recém tinha chegado ao meu escritório, não fazia sentido, mas quem se importava?

Atrás de mim entrou a assistente dele e me disse que ele tinha ido almoçar e que não voltaria aquele dia, mas eu não precisava mais voltar, que eu estava demitido. Olhei bem para ela com cara de tonto, olhei para a cadeira do meu chefe – ou ex-chefe -, olhei para a janela aberta, olhei para ela novamente e olhei para a janela. Fui para a janela.

Acho que foi algo meio instintivo o salto, nem pensei muito. Na verdade nem pensei. Pelo certo eu deveria cair em linha reta e vertical até o chão. Eu caí, mas não exatamente até o chão. Um pouco antes de dar de cara na calçada fechei os olhos esperando espatifar meu corpo, só que eu continuei caindo. Abri os olhos os olhos e tudo ao meu redor estava preto. Eu estava no meio do nada, mas continuava caindo. Depois de um tempo minha respiração começou a ficar mais e mais fraca.

Quando não consegui mais respirar fiquei desesperado e, de repente, me vi sentado na minha cama. Meu coração estava acelerado, eu estava suando frio e ofegante. Minha mulher acordou e me olhou assustada.

– Mais um pesadelo, querido?

By: Daniel (again)

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